A paciente silenciosa – Alex Michaelides

Ninguém nasce mau. Já dizia Winnicott: “o bebê não é capaz de odiar a mãe se antes a mãe não odiá-lo”. O bebê é uma esponja inocente, um quadro branco, tendo presentes apenas as necessidades básicas (…). Mas alguma coisa acaba dando errado, dependendo das circunstâncias nas quais nascemos, da casa em que crescemos. Uma criança atormentada, sofrendo abusos, não é capaz de se vingar no mundo real, mas pode alimentar fantasias de vingança da imaginação. A raiva, assim como o medo, é reativa (p.146).

Cheguei com mais uma leitura concluída! Desta vez um livro que figurou entre os mais vendidos da Amazon por algumas semanas e, vejam só, merece todo o hype que estava tendo.

O enredo do livro é simples: “Alicia Berenson tinha 33 anos quando matou seu marido com cinco tiros. E nunca mais disse uma palavra. O psicoterapeuta forense Theo Faber está convencido de que é capaz de tratar Alicia, depois de tantos outros falharem. E, se ela falar, ele será capaz de ouvir a verdade?“. A sinopse é direta ao ponto e nos faz questionar: “se houve um crime e ele já foi solucionado, afinal do que se trata o livro?” Quando uma história é do gênero thriller a gente já imagina que haverá um crime e o mistério “quem matou quem” será o que levará o leitor até o final, mas, nesta história, o enredo já está resolvido, então o que motivará o leitor seguir até o fim? É aí que você se engana, pois, às vezes, o simples pode ter várias camadas.

Direto ao ponto: o enredo acompanha o psicanalista Theo Faber e sua tentativa de ajudar Alicia. Como a própria personagem diz: “Eu quero ajudar você. Preciso que acredite nisso. A verdade é que quero ajudar você a ver o mundo com mais clareza” (p.88). No final isso fará todo sentido. Bom, voltando, temos este terapeuta disposto a entender o porquê do silencio da paciente e a fazê-la voltar a falar. Para tanto ele age como um detetive nos guiando pelo passado de Alicia, entrevistando outros personagens e criando dúvidas sobre em quem podemos confiar.

No início no texto parece haver uma grande barriga quando o autor começa a nos contar sobre a vida do terapeuta Theo; ele narra sobre seu passado, sua relação com os pais, seu casamento, etc. a ponto de a gente ficar se questionando porque raios é preciso de tudo isso, mas, acredite, faz sentido no final. No todo, a trama se intercala entre as sessões de terapia de Alicia com Theo no hospital, os trechos do diário de Alicia e a vida atormentada do terapeuta. Ao final tudo se amarra com aquele toque de tragédia grega (a própria inclusive citada no texto, Alceste, que tem grande influência na história). Ao longo da narrativa, o autor vai dando várias dicas sobre o desenrolar da trama e onde ela iria chegar, eu mesma, ao ler algumas passagens, fiquei pensando “fulano tem culpa no cartório” ou “muito suspeita essa atitude”.

Isto posto, posso dizer que gostei da trama; desta vez não fui tão perspicaz (estou um pouco enferrujada), mas só ficar mais atento que é facinho somar 1+1. A narrativa é fluida, possui vários diálogos (o que deixa a leitura bem dinâmica) e os capítulos são curtos. Por ser a primeira publicação do autor, achei muito boa.

Por fim, o projeto gráfico da editora Record é bom. Folhas amareladas que facilitam a leitura e fonte diferenciada para as passagens que mostram o diário de Alicia e para o desenrolar do texto. A capa possui uma leve textura e parece ser mais molenga que o normal, mas nada que crie problemas. A revisão está ok e a tradução mantém a coloquialidade do texto, com os palavrões e sem firulas.

Para você que está numa fase de ressaca literária recomendo a leitura. Uma opção ótima para quem gosta de suspense psicológico.

MICHAELIDES, Alex. A paciente silenciosa. Rio de Janeiro: Record, 2020.

Verity – Colleen Hoover

Não importa para qual lado eu olhe nesta história, está claro que Verity era mestre em manipular a verdade. A única pergunta que fica é: que verdade ela estava manipulando? (p. 312)

Bom dia, flores do dia! Estou aqui para falar deste livro que consta entre os mais vendidos na Amazon. Para quem ainda não sabe eu sou bibliotecária (sim, existe, pode acreditar) e vejo a meninada muito animada com os livros dessa autora, até que resolvi ler algo dela para saber que tanto ela tem de especial.

Minha conclusão: Já assistiram novela mexicana? A Usurpadora? Então, é isso. Fim.

Ok, vou tentar ser mais específica, mas já aviso que terei que falar sobre o enredo todo, portanto, com muitos spoilers. O livro começa com a mocinha (desculpe, não lembro o nome) se envolvendo em um acidente e um jovem cavalheiro prestando ajuda a ela. Nesse meio tempo a moça-principal-que-não-lembro-o-nome vai a uma reunião para um novo trabalho e, chegando lá, descobre que o nobre rapaz que a ajudou é quem está lhe oferecendo o trabalho. Clichê. Neste contexto, a moça é uma escritora cheia de dívidas e está sendo cotada para dar continuidade a uma saga de livros de uma escritora renomada, Verity, que, por causa de um acidente, está incapacidade de prosseguir com seu trabalho. Depois de muitos lero-lero a menina aceita o trabalho e se muda para a casa do casal, daí pra frente dá pra imaginar o que acontecerá.

A família de Verity e de seu marido Jeremy, Jeremias para os íntimos, é marcada por grandes tragédias recentes: a perda de duas filhas pequenas em circunstâncias estranhas e um acidente que deixou a matriarca catatônica, presa numa cama (por isso a necessidade de uma co-autora para terminar seus livros sem que o real estado de saúde seja revelado). O que eu achei disso tudo? Bom, vamos por partes:

Logo no início do livro, quando é exposto que Verity está presa em uma cama, alheia a realidade eu já pensei “bulshit” e, a partir de então, só conseguia relacionar ela com a Paola Bracho (vocês lembram, né?). Também no início, a história de uma nova menina sendo introduzida nesta casa, sem muito suspense, já deixa claro que haverá interesse amoroso por parte dela e do Jeremias e que eles acabarão tendo um caso tórrido e proibido, regado a culpa e a desejo. Check, check e check.

As coisas começam a ficar estranhas quando a mocinha (Lowen, lembrei o nome) descobre um manuscrito da renomada autora Verity, no qual ela confessa, entre outras coisas, que foi a responsável pela morte da filha e que muito de sua relação familiar era puro fingimento. Neste ponto, Lowen começa a se sentir ameaçada e a desconfiar se a doença de Verity é real mesmo ou se tudo não passa de pura paranoia porque, afinal, quem conseguiria fingir por tanto tempo um estado vegetativo sem ninguém desconfiar, não é mesmo?

Posso dizer que a leitura é rápida e flui bem. Porém, pelo menos da minha parte, a ânsia pelos próximos capítulos se dá mais pela confirmação ou não do que já havia imaginado do que pela curiosidade sobre o que vai acontecer.

Os personagens são típicos de novela mexicana: a mocinha sonsa, a vilã sádica e o galã boa pinta. Porém, há mais camadas do que podemos pensar. Explico: se analisarmos bem, será que o galã é tão honrado assim? Ele se mostra como um pai amoroso e um marido ideal, mas até que ponto? Será que ele tem um algo a mais que o torna dissimulado ou que faz dele um manipulador? A vilã, Verity, é mesmo uma vilã ou uma vítima de sua própria história? Aí vai do entendimento de cada um. A mocinha só é sonsa mesmo, isso não tem o que dizer.

Ademais, o livro se vende como um thriller, mas na verdade é um romance meio soft porn, meio água com açúcar. Existem muitas pontas soltas, passagens meio confusas e achei as descrições de sexo um tanto quanto cafonas. A história é bem previsível e o plot twist um pouco mal feito, até meio sem graça. Porém para quem procura um leitura rápida, fácil e sem nenhuma pretensão é uma opção. Ah! Vale lembrar o livro é recomendado para maiores de 18 anos.

HOOVER, Colleen. Verity. Rio de Janeiro : Galera Record, 2022.

Brincadeira de casinha – Índigo

Num tempo antigo, quando a internet é coisa de ficção científica, Cássia vive tardes de tédio e solidão na casa de dona Generosa.
“Quem é dona Generosa?” Você pergunta. A avó do João. “Quem é João?” Você pergunta. Um menino tímido que está na mesma classe de Cássia. Os dois não se falam, mas é para a casa dele que Cássia vai todas as tardes, depois da escola.
Nesse cenário nada animador, Cássia encontra um conforto secreto brincando de casinha enquanto explora o estranho ambiente. O problema é que ela se empolga na brincadeira e acaba se apaixonando de verdade por João, seu marido imaginário (…).
E isso é apenas uma pincelada do que acontece quando uma inocente brincadeira é levada às últimas consequências.

Tudo bão com vocês? Aqui tudo bão. Vou contar como descobri, por acaso, esse livro bem gostosinho de ler e que termina em uma tarde.

Bom, um belo dia eu estava selecionando materiais para inserir no sistema da biblioteca e me deparei com esse livro. Alguns materiais eu dou uma folheada, uma lida nas primeiras páginas para saber certinho em que categoria ele deve ser incluído. Foi o que aconteceu com este livro, mas, ao contrário de outras obras, quando percebi eu já estava no meio da história querendo saber como ia terminar.

Todo o enredo gira em torna da nossa protagonista e narradora Cássia: uma menina com seus treze ou quatorze anos que, por conta do trabalho dos pais, é obrigada a passar as tardes depois da escola na casa de uma “adorável” senhora e seu neto. O neto (João-cara-de-melão hahahaha) estuda na mesma escola da menina, mas não faz a mínima questão de sua companhia, trocando, apenas, poucas palavras com ela. Já a senhora, dona Generosa, vê defeitos em tudo que Cássia faz ou diz e está sempre resmungando pelos cantos e mimando seu adorável neto João-cara-de-melão (apelido dado por mim, pois esse menino é um pamonha).

É nessas idas e vindas da casa de Generosa que Cássia começa a fantasiar uma nova realidade em que é herdeira de um tio milionário, casada, com filho (Floco, o cachorro) e que tudo aquilo agora lhe pertence. E é a partir deste ponto que imaginação e realidade se intercalam.

Bom, o que dizer deste livro que não prometeu nada e entregou tudo? A história é bem voltada para o público infantojuvenil, mas nos traz aquele déjà vu, aquele reconhecimento, pois todos já passamos por esse período da adolescência, onde os sonhos e a realidade são conflitantes e tudo se torna um grande turbilhão de emoções.

A narrativa é em primeira pessoa, bem gostosa e fluída. Em alguns pontos a realidade da menina Cássia e sua imaginação se misturam, não há distinção no texto sobre as partes em que tudo não passa de uma “brincadeira” da menina, mas é fácil saber quais são elas pela inserção brusca de cenários que deixam aquela sensação de “calma lá, camarada!”.

No geral, a história é bem gostosinha de ler. O livro possui 191 páginas que passam rápido e podem ser lidas em uma tarde. Há ilustrações no início de cada capítulo, feitas por Venes Caitano, que são curtos e sem enrolação. As páginas são amareladas de um papel bom e que facilitam a leitura (uma compensação pela capa feia). Em resumo, recomendo a leitura para todas as idades.

ÍNDIGO, Brincadeira de casinha. Jandira, SP: Ciranda Cultural, 2021.

O que seus olhos me ensinam – Elaine Aliaga

Nas poucas páginas do livro, ela conta como resgatou a pequena Ciloca ainda filhote e como foi o desenrolar da convivência até começarem as crises. Conta como sua vida passou a se organizar em torno dos horários de medicação e como as noites em claro foram constantes durante os breves quatro anos de vida de sua fiel amiga.

Bom, como podem imaginar, o relato já se inicia com um final triste, e o desenrolar não é menos emocionante. Pra gente bunda-mole igual eu o nó na garganta fica do começo ao fim.

No mais, o livro é pequenininho, sessenta páginas descritivas somadas a mais trinta e duas páginas de fotografias. A edição cabe na palma da mão e páginas amareladas que não cansam a vista (pelas poucas páginas nem dá tempo de cansar, acho que li tudo em 20 minutos).

Para amolecer os corações de pedra, nem os mais fortes resistirão.

Casos de família: Arquivos Richthofen – Ilana Casoy

Olá minha gente! Vamos fingir que nada aconteceu, ok? Ok. Bom retornamos a este modesto blog para falar desse livro sobre o famosíssimo caso Richthofen. Eu estou numa fase true crime e gosto de saber as fofocas dos bastidores desses acontecimentos que, de certa forma, pararam o Brasil.

Este livro da Ilana Casoy é um compilado de dois livros: O quinto mandamento e A prova é a testemunha, sendo o primeiro sobre a resenha de hoje e o outro sobre o caso Nardoni que deixaremos para depois. Então vamos lá!

O livro começa com a íntegra da denúncia feita contra os envolvidos no caso, depois relata em ordem cronológica os fatos ocorridos naquele dia. Aborda um pouco sobre a família dos irmãos Cravinhos e sobre a Suzane: como eles se conheceram, o relacionamento da Suzane com os pais de Daniel e vice-versa, o relacionamento conturbado entre as famílias e como surgiram as ideias sobre a morte dos pais de Suzane e o desenrolar de todo esse plano.

Os relatos envolvem as várias versões da história e os diversos pontos de vista – as contradições e os erros decisivos; os depoimentos e as técnicas de investigação da polícia, dos médicos-legistas e dos peritos. A autora conseguiu informações privilegiadas, pois teve uma autorização para participar da reprodução simulada do crime. Ela relata suas impressões e opiniões sobre o caso, bem como mostra todo o seu caderno de anotações do julgamento e demais etapas em que esteve presente.

Além do relato da autora, o livro conta com documentos e fotos reais do caso. Também estão reproduzidos trechos em Fac-símile das investigações da Polícia Civil e Científica e do Ministério Público, bem como a transcrição na íntegra dos debates entre advogados de acusação e de defesa, além do discurso do promotor do Ministério Público a partir da gravação feita pelo próprio tribunal do júri.

Para quem gosta de reportagens investigativas e também é fã de documentários e de podcast sobre crimes reais, o livro é uma boa opção. Como dito anteriormente, eu gosto de saber sobre o desenrolar dos acontecimentos e aqueles pormenores que não aparecem na mídia. Tem gente que acha isso um gosto meio mórbido, eu chamo de peculiar.

Na minha opinião o livro é fácil de ler, pois Ilana tem uma escrita envolvente. Agora, a parte que tem as falas dos advogados me deu um pouco de preguiça, pois todo aquele linguajar e aquele blá blá blá jurídico é bem cansativo. Confesso que pulei essa parte e fui logo para o final onde estão as sentenças dos três réus do caso.

No mais, a edição da DarkSide é aquele primor que todos conhecem: capa dura, páginas amareladas, marcador de páginas clássico (aquele de fitinha) e algumas ilustrações coloridas. Dá até gosto de ler.

CASOY, Ilana. Casos de família: arquivos Richthofen e arquivos Nardoni. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2016.

#Diadospais

“Pai. Você sempre liga sem ter nada especial a dizer. Você pergunta o que estou fazendo ou onde estou e se o silêncio entre nós se estende por uma vida dou um jeito de encontrar perguntas que façam a conversa continuar. O que eu queria mesmo dizer é: eu sei que o mundo te despedaçou. Foi com tudo pra cima de você. Não te culpo por não saber ser delicado comigo. Às vezes fico acordada pensando em todos os machucados que você tem e nunca vai dizer. Eu venho do mesmo sangue dolorido. Do mesmo osso tão sedento por atenção que desabo em mim mesma. Eu sou sua filha. Eu sei que a conversa-fiada é o único jeito que você conhece de dizer que me ama. Porque é o único jeito que eu conheço.”

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KAUR, Rupi. Outros jeitos de usar a boca. São Paulo: Planeta, 2017.

Elevador 16 – Rodrigo de Oliveira

Ninguém sabe ao certo como um zumbi se comporta. Às vezes, eles são repetitivos, previsíveis, como mecanismos programados para fazer sempre a mesma coisa, no mesmo horário e do mesmo jeito.
Mas eles também podem surpreender com um comportamento completamente inesperado; e, quando isso acontece, o resultado costuma ser catastrófico (p.47).

Cheguei! Cheguei, chegando, bagunçando a zorra toda! Eclética define! Comentei a pouco sobre livros-reportagem, poesia, ficção científica e agora vamos falar sobre zumbis! Quem gosta de zumbis levanta a mão! E o melhor: literatura nacional.
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Descobri meio sem querer no skoob o livro Elevador 16, li a sinopse e fiquei interessada. Solicitei na troca e chegou bonitinho, eis que: Gente, o livro é bem fininho (60 páginas, mas culpa minha que não prestei atenção na hora de pedir), a capa é ótima, porém quando fui ler a contra-capa estava escrito “Leia antes o livro tal”. Aí fique igual o urso do pica-pau (arrastando a bunda no chão, sabe qual é?), mas fui ler mesmo assim e, olha, eu gostei!

O livro conta a história de Mariana e seus colegas que, num sábado de hora extra, no mesmo dia em que um fenômeno cósmico ocorre, acabam ficando presos no elevador no qual nenhuma comunicação funciona e ninguém aparece para ajudar, porém algo estranho acontece e algumas pessoas se transformam em seres vazios… furiosos!

Olha, eu gostei da história! Fui surpreendida positivamente! A escrita é ágil e fácil. As cenas são rápidas e acompanham o desespero das personagens. Trata-se de uma crônica/conto sobre o exato momento em que o mundo se transforma; a dúvida e a confusão que atormenta as personagens é transmitida para o leitor. Daquelas leituras que a gente faz “numa sentada”. Livro fino, mas bastante interessante – e tem todos aqueles clichês de zumbi que a gente adora! E vamos largar mão de preconceito bobo e dar uma chance para o terror nacional – a gente pode se surpreender!!!

4 latas

OLIVEIRA, Rodrigo de. Elevador 16. Barueri: Faro Editorial, 2015.